segunda-feira, 28 de abril de 2008

GRANDE PARADOXO

Chuvas no RN: alegria e temor no sertão
Canindé Soares/ABFESPETÁCULO - Quatro anos depois, o Gargalheiras sangrou na manhã de ontem01/04/2008 - Tribuna do Norte
O temporal previsto pela Secretaria Nacional de Defesa Civil não veio no final de semana, mas as chuvas já começam a fazer estragos no Vale do Açu, onde comunidades estão ilhadas. No Seridó, o clima é de euforia. O Açude Gargalheiras finalmente encheu. No RN, 22 açudes de grande e pequeno portes estão sangrando.Cheias prejudicam carciniculturaAs chuvas vieram no final de semana, mas não tão fortes, nem acompanhadas de descargas elétricas, como previa a Secretaria Nacional de Defesa Civil. Melhor assim, porque em algumas regiões as águas já começam a causar estragos. Em Pendências a cheia do rio Açu deixou submersa a passagem molhada (uma espécie de ponte rústica de pedras) impedindo o tráfego de caminhões que transportam petróleo extraído de poços terrestres, sal e camarão criado em cativeiro.Desde as primeiras horas do sábado, os caminhões da Potiporã fazem um trajeto alternativo, por Carnaubais, que aumenta em mais de 100 quilômetros o percurso entre as fazendas produtoras em Porto do Mangue e a unidade de beneficiamento em Pendências. Se a água do rio continuar subindo, como parece inevitável diante das chuvas nas cabeceiras do rio Açu, os caminhões terão de ir até Assu e voltar, um percurso de 200 quilômetros que vai aumentar os custos de produção numa hora ruim para a carcinicultura norte-rio-grandense, cuja rentabilidade caiu na mesma proporção da desvalorização do dólar. Quando o rio não está cheio, a distância entre as fazendas e a unidade beneficiadora é de apenas 20 quilômetros.A Potiporã retira entre 30 e 40 toneladas de camarão de suas fazendas naquela região. Mas ela é apenas uma entre dezenas de fazendas, inclusive à do vice-governador Iberê Ferreira de Souza. “Vamos fazer um apelo à governadora Wilma de Faria para que inclua a construção da estrada do camarão entre as prioridades”, disse ontem o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha. Ele calcula que as fazendas localizadas em Porto do Mangue e Pendências são responsáveis por 30% da produção de camarão no Rio Grande do Norte. As enchentes prejudicam também os produtores de sal e empresas agropecuárias. No final de semana, alguns agropecuaristas alugavam pequenas canoas para transportar os sacos de ração, cena que vem se tornando corriqueira, variando apenas na intensidade do problema. As canoas voltaram a fazer parte da paisagem em Pendências. No domingo pela manhã, quando a Tribuna do Norte esteve fazendo o percurso entre a foz do rio e a barragem Armando Ribeiro Gonçalves, que havia atingindo uma lâmina de 1,40 metro de água, o canoeiro João Melo Rodrigues improvisava um remo. E os moradores tentavam se lembrar qual o ano da maior enchente. “Foi em 1985”, disse um dos moradores. “Foi em 1960”, retrucou uma mulher. “Em 1985, a água foi bater naquele poste”, argumentou o homem. “Na de 60, a água foi além. Chegou na praça”, insistiu a mulher. Os dois concordam. As maiores cheias foram as de 1960, 1985, 2004 e a deste ano.Em Alto do Rodrigues, a chuva deu um novo colorido ao carnaval fora de época da cidade. O domingo era de ressaca. Nas ruas poucas pessoas, no acostamento, trios elétricos de bandas de axé e um ônibus da Banda Grafith.Euforia e preocupação no Vale Em Assu o clima era de festa e, ao mesmo tempo, de preocupação. Festa da população pelo volume de água da barragem, que garante o abastecimento de 40 municípios por mais três anos, mesmo que não haja inverno até 2011. Preocupação do prefeito Ronaldo Soares e dos proprietários rurais com prejuízos que o excesso de água já começou a causar. Com o aumento da lâmina do sangradouro da barragem, as águas cobriram os diques e inundaram o canal construído para perenizar o rio Panon e manter alimentar a lagoa do Paitó. Resultado: os campos e plantações começaram a ser inundados. O prefeito Ronaldo Soares (PP) esteve na manhã de ontem fazendo uma inspeção no local e criticou o governo do Estado. Disse que o projeto original do canal foi descaracterizado no governo Wilma. No lugar de concreto, foi utilizado piçarro no canal. “A água destruiu tudo”, afirmou o prefeito. O temor do prefeito é com o aumento do volume de água na barragem. Se o nível da sangria chegar a 2,5 metros (ontem pela manhã estava em 1,7 m) todo o vale será inundado. “Se isso acontecer, o que o governo vai fazer?”, indagou Ronaldo Soares, que reclamou do governo paralelo montado em Assu para beneficiar a secretária de articulação com os municípios, Fátima Moraes.As enchentes no Vale do Açu viraram uma guerra de palavras. Até o pároco local, monsenhor Francisco Canindé dos Santos, entrou na polêmica. Ele aproveitou o programa de rádio, ontem, para criticar as obras realizadas pelo governo. E disparou: “Tanta irresponsabilidade, tanta falta de critério para fazer uma coisa tão feia, tão suja, tão porca.” (leia reportagem nesta página).LazerNo final de semana, o movimento foi intenso na barragem. Automóveis, vans transportando romeiros e ônibus chegando de várias partes do Estado. Tinha carro com placas de Fortaleza, Natal, Parnamirim, Tocantinópolis, Mossoró, Caicó, Recife... O dia estava perfeito para os barraqueiros e donos de bares. Sol pela manhã; chuva do meio da tarde em diante.O vereador Valério Felipe Santiago, de Parnamirim, foi com a família. Janilson Lima, 28 anos, levou a mulher e o filho de apenas dois meses de idade. Apesar da chuva, do desconforto do bebê, a família Lima não arredou pé. Já Maria do Carmo, moradora de Assu, alertava para o perigo que corriam muitos banhistas acampados sobre as pedras ou desafiando a força da correnteza. “Deveria ser proibido vender bebida na área da barragem”, sugeriu.Padre pede explicações sobre qualidade do serviçoO padre Francisco Canindé dos Santos, pároco da cidade de Assu há 42 anos, e conhecedor das problemáticas da região, reiterou as críticas feitas ao Governo do Estado em relação ao suposto “descaminho” do dinheiro que serviria às obras do canal do Piató. Na tarde de ontem, o vigário voltou a uma das áreas por onde passa o canal, com o objetivo de constatar o eventual estrago feito pela cheia.O religioso cobrou explicações aos representantes do Governo do Estado sobre a qualidade do serviço feito no canal do Piató. “Fizeram um trabalho porco, mal feito mesmo. O dique já não existe mais”, disse.O vigário destaca a importância do canal para a região e ressalta que o montante gasto na contratação do projeto executivo (R$ 700 mil), seria suficiente para erguer a estrutura. Francisco Canindé dos Santos classificou de ‘irresponsáveis” os critérios adotados para executar as obras.“Contrataram uma empresa e um engenheiro do estado Piauí. Pessoas que não conhecem a realidade aqui dessa região”, destacou o pároco de 69 anos de idade. Em seu programa denominado “Bíblia, Deus com a gente”, veiculado diariamente pela rádio AM Princesa do Vale, padre Canindé afirmou que é vergonhoso o descaso com o dinheiro público.Ele acusa o Governo do Estado de consumir os recursos alocados com inaugurações e reinaugurações. A população considera a situação semelhante àquela do canal do Panon, concluído em 2005 pelo o Governo do Estado - investimento de aproximadamente R$ 4 milhões. O canal ficou inutilizado, sendo necessário o Governo destinar mais recursos (R$ 2,5 milhões) para revisar o erro. As críticas feitas pelo pároco de Assu viraram notícia também nos “blogues” atualizados por jornalistas da região. Que até reproduziram trechos do programa de rádio protagonizado pelo pároco de Assu.Ipanguaçu está em estado de alertaEm Ipanguaçu, o prefeito José de Deus Barbosa Filho (PP) colocou toda a estrutura da administração municipal em estado de alerta. A preocupação dele não eram as águas do rio Açu, mas umas nuvens pesadas, escuras, vindas do Leste. “Se chover na direção de Angicos e Fernando Pedroza será inevitável”, disse ele ao inspecionar, no domingo, uma área alagada perto da sede do município. A sangria do Açude Pataxó estava com uma lâmina de 25 centímetros. “A partir de 50 centímetros a água já começa a chegar na cidade, e com 70 se instala o caos, sendo necessário retirar as pessoas que moram nas áreas sujeitas a alagamentos.”Quando isso ocorreu pela última vez, em 2004, foi um desastre. Dois terços do município ficaram debaixo d’água. A prefeitura e a defesa civil tiveram de retirar 1.500 famílias das áreas inundadas. As águas destruíram as culturas de subsistência e 10% da plantação de banana da multinacional Del Monte. As conseqüências hoje, na avaliação do prefeito, seriam menores. Primeiro, porque a construção de um conjunto habitacional - o Presidente Lula - permitiu retirar das áreas de risco 460 famílias. Outro conjunto - o José de Deus (homenagem ao pai do prefeito) - abriga mais 430 famílias. Segundo, porque o inverno chegou antes de ser iniciada a plantação de milho e feijão.As inundações em Ipanguaçu são provocadas pelo assoreamento do rio Pataxó. São dez quilômetros de bancos de área cobertos por uma vegetação que não permite o escoamento da água no leito normal. Domingo pela manhã, com uma lâmina de apenas 25 centímetros de sangria do Açude Pataxó, a água já cortava a estrada de acesso a uma comunidade rural em três partes. Só veículos de maior porte, como camionetas e caminhões podiam passar. Além disso, uma vasta área de terra preta e argilosa, onde existem centenas de carnaubeiras, estava alagada. José de Deus afirma que existe uma solução para os alagamentos da cidade. É o desassoreamento do rio. E dinheiro já foi disponibilizado para o trabalho, mas o prefeito reclama. Segundo ele, da verba de R$ 1 milhão, consignada no Orçamento Geral da União pela deputada Fátima Bezerra (PT), mais da metade - R$ 700 mil - serão usados no projeto básico de macrodrenagem da bacia do Pataxó. “Com esse dinheiro (R$ 1 milhão) dava para retirar o mato e fazer o desassoreamento do rio. Além do mais, estamos precisando de uma ação emergencial e não de um projeto de engenharia”, disse o prefeito. “O governo vai gastar R$ 700 mil para que os engenheiros digam qual a largura e a profundidade do rio deve ter”, ironizou.No sábado, o vice-governador Iberê Ferreira de Souza, que acumula o cargo de secretário de Recursos Hídricos, sobrevoou a área de Ipanguaçu de helicóptero. Ontem, enquanto aguardava uma audiência com o vice-governador, José de Deus foi informado que as comunidades de Língua de Vaca, Canto Claro, Angélica e Luzeiro e Cuó estavam ilhadas. Comitiva de Ipanguaçu se reúne com secretárioOntem pela manhã, o vice-governador Iberê Ferreira de Souza se reuniu com uma comitiva formada pelos deputados Fátima Bezerra e Fernando Mineiro, prefeito José de Deus e representantes de comunidades rurais de Ipanguaçu. A reunião foi pedida pela deputada, autora de uma emenda no valor de R$ 1 milhão para as obras destinadas a evitar inundações como as que ocorreram em 2004.Nos corredores da Secretaria de Recursos Hídricos, Fátima Bezerra não escondia a preocupação com o problema. Dizia não entender o por quê de tanta demora do governo do Estado para tomar uma decisão a respeito das obras no canal do Pataxó. Segundo ela, a emenda foi empenhada em dezembro de 2006. Um ano e três meses depois, a providência tomada foi a contratação de um projeto executivo para a obra. “Estamos aqui para saber quais providências precisam ser adotadas, o que depende do governo e como podemos ajudar”, disse ela antes da audiência.A Tribuna do Norte tentou falar ontem como o secretário Iberê Ferreira, mas não conseguiu. Pela manhã ele não pode a tender porque já estava atrasado para a reunião com a deputada Fátima Bezerra. À tarde a TN manteve contato com a Assessoria de Imprensa, para quem passou um e-mail contendo quatro perguntas sobre os problemas no Vale do Açu. Até às 19 horas, não recebemos a resposta. A assessoria explicou que o secretário estava numa reunião. Gargalheiras sangra e vira atraçãoCarla França - Repórter
“Rios correndo, as cachoeiras tão zoando, terra molhada, mato verde, que riqueza. E a asa branca, tarde canta, que beleza. Ai, ai, o povo alegre, mais alegre a natureza!”. A música de Luiz Gonzaga retrata a alegria do sertanejo ao ver os açudes sangrarem e a esperança se renovar com o início das chuvas. É como partilhar das alegrias das nuvens que derramam as águas abundantes para molhar a terra que fará nascer as sementes e acontecer o milagre da multiplicação.A equipe da TRIBUNA DO NORTE percorreu os municípios de Santa Cruz, Currais Novos, Acari e Caicó para ver essa alegria com a chegada das chuvas, que além de garantir boa colheita, transforma a paisagem seca do sertão. Um espetáculo para os olhos e uma alegria para quem tanto sofre com a seca. As pessoas esperam ansiosas pelo momento mágico da sangria.“Sou de Acari, mas há muito tempo estou morando em Natal, mas com o início dessas chuvas ligava quase todos os dias para saber como estava o nível do Gargalheiras. Ficamos monitorando centímetro a centímetro o nível das águas.”, disse a empresária Iara Cabral de Medeiros que foi passar o final de semana na cidade para esperar a sangria do açude.Mas foi só na manhã de ontem que o Gargalheiras transbordou, atraindo parte da população do município e de outras cidades para observar a sangria do açude que possui uma capacidade para armazenar mais de 40 milhões de metros cúbicos de água. A expectativa era tanta que alguns curiosos não esperaram nem o amanhecer do dia e nas primeiras horas da segunda-feira já estavam às margens do açude, que no sábado estava com 83% de sua capacidade. Mas só por volta das oito horas da manhã os primeiros filetes de água escorreram pelo sangradouro. Considerado o açude mais bonito do Estado, o Gargalheiras foi inaugurado em 1959, em meio a uma cordilheira de serras. O Marechal Dutra (nome oficial do açude) recebe as águas do rio Acauã e sangrou pela primeira vez em 1960. O Gargalheiras virou uma atração turística da região e a sua sangria traz benefícios não apenas para os agricultores. “O açude estando cheio é bom para todo mundo, desde os pescadores da colônia até nós comerciantes porque desde o começo das chuvas o movimento aqui no balneário dobrou”, disse a comerciante Luciana Maria Alves. Mas nem tudo é só alegria e apesar da beleza da natureza, os visitantes reclamam da falta de estrutura do local que dispõe apenas de um banheiro para atender o público.Mesmo diante de problemas como esse, a maioria da população esquece das dificuldades e passa a contemplar a festa da natureza.Dourado: sangra depois de treze anosEm Currais Novos não se fala em outra coisa se não no açude Dourado, que há quase 13 anos não sangrava. Hoje, a água que corre pela parede do sangradouro faz a alegria das crianças e dos adultos que disputam, o melhor lugar em baixo dela. “É bom demais ficar aqui, tomar banho e brincar no açude Dourado. A gente não tem praia e vem se divertir aqui com os amigos”, contou alegre o pequeno Leonardo Lima, de 10 anos, que foi para o açude com o irmão, de oito anos, Wellington. Assim como os dois irmãos, outras tantas pessoas foram passar a manhã de sábado no açude.Mas tem aqueles que estavam lá apenas para olhar o espetáculo das águas. “Eu venho aqui todo dia, pelo menos umas três vezes, olhar a sangria do Dourado, que há muito tempo não juntava água e pior, estava comprometendo o abastecimento de água do município de Currais Novos. Estávamos sofrendo muito e agora é só festa”, falou o militar aposentado José Borges.Entre os visitantes estava a adolescente de 13 anos, Andreza da Costa, que pela primeira vez estava vendo a sangria do açude Dourado. “O ano que eu nasci foi a última vez que o açude sangrou. Eu nunca tinha visto tanta água e tanta alegria. Foi uma das coisas mais bonitas que já vi”. O pescador Adalberto Bezerra também aproveitou o final de semana para se divertir com a família. “Gosto muito de pescar e nunca mais tinha tido esse prazer, mas graças às chuvas e a Deus, estou me divertindo com minha família”. O reservatório tem capacidade para 10 milhões de metros cúbicos. Com a sangria a Caern religou o sistema de abastecimento que estava desativado, desde o ano passado. A ligação aumentou a produção em mais 360 metros cúbicos por hora e acabou com o racionamento de água na cidade. A sangria aconteceu na madrugada do último dia 24. “O casal Sebastião e Maria de Lourdes, aquele que saiu de Parnamirim só para olhar a sangria dos açudes, também deu uma ‘paradinha’ no Dourado. Moradores de Santa Cruz estão em festa com tanta águaE a festa das águas está acontecendo em quase todos os municípios do Rio Grande do Norte. “É muito bom ver o açude sangrar. A gente acorda bem cedo só para vir pescar e ter a alegria de jogar a rede nas águas e puxar de volta cheia de peixes”, contou o pescador José Pedro Pereira, que às 8h da manhã de sábado já estava no açude Santa Cruz do Trairi, no município de Santa Cruz.Assim como Pedro, outras pessoas levantaram cedo para apreciar o açude, que há quatro anos não sangrava. “Deus quando manda, manda para os justos e os injustos, todos nós estamos sendo abençoados. E pode vir mais chuva porque eu prefiro perder minha colheita por causa da chuva do que por causa da seca”, disse o agricultor Roberto Moreira quem tem uma pequena propriedade às margens do Inharé, também no município de Santa Cruz.Mesmo sem estar com sua capacidade completa, as águas do Inharé já mudaram a vida daqueles que moram às suas margens, como é o caso da dona-de-casa Maria Aparecida de Souza. “O açude não ficou seco, mas antes da chuva a água não prestava nem para lavar roupa, era só lama. Mas agora não, dá até para cozinhar. Não existe alegria maior para o sertanejo do que ver a terra molhada, os açudes cheios e a plantação ‘verdinha’”.E não importa se é final de semana ou dia de descanso. “Toda hora é hora. Pode ser sábado ou domingo, a gente não liga para isso. O importante é preparar a terra e as sementes para receber as chuvas que Deus manda para nós. Eu não vivo da agricultura, mas tenho o maior prazer de plantar”, diz o funcionário público Nino Bezerra, que aproveitou o sábado para cuidar das plantações de milho, feijão e quiabo.O espetáculo das águas é uma atração para todos os olhos, inclusive para aqueles que não trabalham com a agricultura. Um exemplo é o casal de aposentados Maria de Lourdes e Sebastião da Silva, que saiu de Parnamirim só para ver os açudes do interior do Estado. “É uma coisa muito linda, um presente de Deus para o povo do Nordeste. E não podíamos deixar de apreciar esse espetáculo, por isso estamos percorrendo os açudes Currais Novos, Acari e Caicó”, disse Sebastião.Caicoenses vivem na expectativaAs boas chuvas que caíram no Seridó ainda não foram suficientes para encher o açude Itans, o maior reservatório de água do Seridó, localizado em Caicó, que possui capacidade para mais de 81 milhões de metros cúbicos. Até ontem, o valor acumulado foi de 44.213.500 metros cúbicos. Mas esse é apenas um detalhe para a população do município.“A última vez que mediram ainda faltavam uns quatro metros para começar a sangrar, mas estamos aproveitando a chuva mesmo assim”, disse o pintor Salatiel Batista da Silva, que foi com os amigos tomar banho no Itans.Em Caicó fez sol a maior parte do final de semana e os caicoenses aproveitaram o dia de sol para curtir o açude de Itans. Os comerciantes que ficam próximo ao açude estão tendo bons lucros. “A gente está vendendo bem, como o Itans está cheio e a gente não tem praia, as pessoas aproveitam aqui mesmo. E digo que não tem coisa melhor. É bom para os comerciantes e para quem trabalha com plantação. A chuva é boa demais”, disse o comerciante José Fernandes. Até quem não teve coragem de entrar na água aproveitou para dar uma ‘olhadinha’ no Itans. “Tomar banho não, mas gosto muito de observar o Itans cheio. As pessoas ficam chateadas porque ainda não sangrou, mas ele é muito grande, não é de uma hora para outra. Mas se Deus quiser ele ainda vai sangrar”, falou a dona-de-casa Ana Maria Soares.Assim como acontece em Caicó, outros municípios do Rio Grande do Norte estão esperando pela sangria de seus açudes. E o mais interessante é que isso não impede que eles se alegrem com a felicidade dos outros. Porque para esse povo, o que fica é a alegria dos dias de chuva e o sorriso do homem do campo quando vê a semente que plantou nascer.

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