
Escondida entre as montanhas da região central da China, Chongqing é o mais impressionante fenômeno urbano do século 21. Não existe nas grandes cidades chinesas nada que se compare ao canteiro de obras em que a cidade se transformou na última década. Há dezenas de prédios em construção em qualquer direção que se olhe, o que a torna particularmente desagradável. Nem as britadeiras de Pequim no frenesi pré-Olimpíada fazem tanto barulho quanto as de Chongqing. O governo está, basicamente, colocando a velha cidade abaixo e fazendo outra. Há dez anos, Chongqing era o retrato de uma China parada nos anos 60. Tinha apenas 70 quilômetros de rodovias, um aeroporto modesto, nenhuma linha de metrô e duas pontes sobre os rios Yang Tsé e Jialing, que banham a cidade. De lá para cá, o governo local construiu mais de 1 000 quilômetros de estradas, 90 quilômetros de linhas de metrô (outros 440 estão a caminho), dois aeroportos e incontáveis novas pontes. O crescimento de Chongqing é também horizontal. Para acomodar os migrantes, a cidade se expande em média 31 quilômetros quadrados por ano, uma área equivalente a quase 4 000 campos de futebol. Em apenas cinco anos, a população da cidade cresceu o equivalente a três Dortmund e duas Detroit. Sua economia quadruplicou na última década. No ano passado, a taxa de crescimento foi de 14,5%.
Uma das principais características do modelo de desenvolvimento da China nos últimos 20 anos tem sido a imensa desigualdade entre a costa e o interior do país. Como aconteceu com o Brasil em suas décadas de crescimento acelerado, a China concentrou sua expansão em algumas cidades litorâneas, relegando ao oeste do país a função de produzir comida e fornecer mão-de-obra barata às fábricas. Entra aí uma agravante. Cada chinês tem de morar e trabalhar na província onde nasceu, a não ser que o governo permita que se mude. Os operários que vão trabalhar nas fábricas costeiras não têm permissão para ficar e voltam para sua cidade natal quando perdem o emprego. Pelo modelo chinês, ter chance ou não na vida passou a ser questão de destino. Quem nasce em Xangai pode vestir ternos Armani, pintar o cabelo de roxo e dirigir um carrão. Sorte dele. E quem nasce numa província pobre não pode. Azar.
O espectro de uma revolta rural ou a possibilidade de um êxodo em massa para as grandes cidades sempre assombraram os comunistas chineses, o que ajuda a explicar essa obsessão por controle. Para a linha-dura, bastava manter os camponeses devidamente apavorados para que o tecido social chinês não se rompesse. Mas esse tecido foi esgarçado ao limite pelos anos de crescimento, que deixaram de fora mais de 700 milhões de camponeses. Ainda hoje, mais de 100 milhões deles vivem com menos de 1 dólar por dia. E a renda per capita na China urbana é três vezes maior que no campo. Receosos de perder o controle da massa, os comunistas protagonizaram no fim dos anos 90 uma mudança de atitude. Eles chegaram à conclusão de que era preciso fazer a pujança econômica dar o ar da graça no oeste rural do país. O governo lançou então uma espécie de Plano Marshall para a região. E o fez abrindo o cofre. Somente nos últimos cinco anos, 397 bilhões de dólares foram investidos em obras no oeste da China. A mais famosa delas é a hidrelétrica de Três Gargantas, a maior do mundo, destinada a abastecer de energia a região. Com essa dinheirama, os dirigentes chineses tentam comprar a estabilidade do país. E, nesse quebra-cabeça, nenhuma peça é mais importante que Chongqing.
Uma capital no meio do nada. Chongqing é um dos centros urbanos que mais crescem no mundo
População
32 milhões de habitantes
Crescimento
Crescimento
14,5% em 2007
Número de migrantes por ano
Número de migrantes por ano
300 000
Está construindo
Está construindo
8 auto-estradas, 793 pontes e 440 quilômetros de linhas de metrô
FONTE: REVISTA EXAME.
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