sábado, 23 de agosto de 2008

O retorno dos dirigíveis

Abandonados há mais de 70 anos, os zepelins voltam a ser utilizados para o turismo na Europa — e há até projetos de uma rota para o Brasil
Na história da aviação, poucos desastres foram tão marcantes quanto o que envolveu o dirigível LZ 129 Hindenburg, em 1937. Símbolo do poder e da tecnologia alemã, a gigantesca estrutura de 245 metros de comprimento foi rapidamente consumida por um incêndio em pleno ar pouco antes de pousar em Nova Jersey, nos Estados Unidos, deixando para trás um saldo de 36 mortos. As impressionantes imagens do acidente percorreram o mundo. Desde então, os zepelins, como ficaram conhecidos os dirigíveis graças ao criador do Hindenburg, o conde alemão Ferdinand von Zeppelin, viraram sinônimo de tragédia — e os grandes projetos envolvendo tais aeronaves acabaram enterrados. Isso até o dia 26 de agosto. Nesta data, o dirigível NT, fabricado pela própria Zeppelin, deverá cruzar os céus da Europa com dez passageiros a bordo. Será o primeiro vôo internacional realizado por um dirigível em mais de 70 anos. Para sobrevoar os céus de Inglaterra, França, Bélgica e Holanda, os interessados tiveram de pagar 9 700 dólares, quase dez vezes o valor de um bilhete de primeira classe nessa mesma rota. Mesmo com preço elevado, as passagens esgotaram-se em menos de uma semana.

Apesar de fabricados pela mesma empresa, a nova geração de zepelins é bem diferente daquela que cruzou o oceano Atlântico no início do século 20. Para começar, a velha estrutura de ferro foi substituída por materiais mais leves, como o alumínio e a fibra de carbono. Além disso, os dirigíveis atuais são revestidos de um tecido constituído de fibras sintéticas, mais resistentes. Mas a grande diferença está no gás utilizado para inflar as novas aeronaves: o hélio. Trata-se de um tipo de gás inerte, que, ao contrário do hidrogênio utilizado no Hindenburg, não é inflamável. Tais avanços tecnológicos, contudo, vieram com um preço. Para manter a estabilidade no ar e, com isso, garantir a segurança do vôo, os dirigíveis atuais contam com apenas um terço do tamanho dos velhos zepelins. Nas novas aeronaves, não há sequer vestígio da ostentação que permeava as viagens de outrora. No vôo até a Holanda, os dez passageiros do NT terão de se contentar apenas com a vista privilegiada do passeio — a estreita cabine reserva espaço somente para as poltronas e um pequeno corredor. “Nesse tipo de passeio, o luxo está em poder sobrevoar pontos turísticos, como o Big Ben e a Torre Eiffel”, afirma Hokan Colting, presidente da 21st Century Airships, empresa especializada na fabricação de zepelins.

Até há pouco tempo, os zepelins eram utilizados basicamente como veículo de publicidade. Vez ou outra, algumas agências de propaganda promoviam pequenos passeios usando a aeronave — mas a idéia de utilizar novamente o dirigível como forma de transporte nunca decolou. Foi somente no início deste ano que o uso de zepelins com fins turísticos ganhou fôlego. Cidades como Tóquio e Osaka, no Japão, e Atenas, na Grécia, têm oferecido passeios pela cidade a um custo de 1 500 dólares por 2 horas de vôo. Além disso, estão em fase de negociação duas rotas internacionais: uma ligando Londres à cidade americana de São Francisco, na Califórnia, e outra unindo a capital britânica ao Rio de Janeiro, ambas em fase inicial de negociação.

A idéia de ressuscitar os dirigíveis para fins comerciais não é nova. Há cerca de dez anos, a americana Advanced Technologies e a alemã Cargolifter chegaram a se envolver no projeto de uma nova geração de zepelins, destinada sobretudo ao transporte de carga. Apesar das vultosas somas envolvidas (o investimento total chegou à casa do bilhão de dólares), o projeto naufragou sem nunca ter produzido uma única aeronave. Esse e outros reveses enfrentados no passado não demoveram algumas empresas da idéia de reativar os dirigíveis — desta vez, no segmento de altíssimo luxo e sob forma de gigantescos hotéis flutuantes. Nesse sentido, o projeto francês desenvolvido pela empresa de tecnologia aeroespacial Onera, em parceria com o renomado arquiteto Jean-Marie Massaud, é o que se encontra em fase mais avançada. A um custo de 15 bilhões de dólares, o Manned Cloud, como foi batizado, terá capacidade para hospedar até 40 pessoas. Entre os mimos que serão oferecidos estão um restaurante cinco estrelas, biblioteca, academia de ginástica e spa. O hotel deve ficar pronto até 2020, e estima-se que cada passagem deverá custar em torno de 20 000 dólares. Depois de um começo desastroso, os dirigíveis parecem finalmente ter dado a volta por cima — e, novamente, em grande estilo.
FONTE: PORTAL EXAME

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